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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Sernancelhe, enfim à luz do dia

João-Afonso Machado, 23.07.21

Cheguei de manhã, pronto a batalhar com o indígena e regicida Aquilino. Para lhe roubar a terra, o coração, de todos os portugueses uma alma pretensiosa, apontando-lhe o ricochete do tiro mesmo no coração desta vila antiga, sede de concelho no distrito de Viseu. A minha arma, - somente a caneta, mais a magia da máquina fotográfica. É pouco. Aquilino escreveu as serranias, o vale do Coa, e as minhas palavras não descem além do vilório granítico. Assim o pelourinho duocentista se me plantou firme, na praça principal - Aquilino esquecido, o malandro, - nas eras eternas em que a voz do povo sempre mandou.

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Em seu redor, o casario dos de lá. Vivo, sempre vivo. Pedras que o Tempo nada deve à História; histórias a quem o tempo deve explicações. Valha o caso da Casa da Comenda de Malta!

CASA DA COMENDA DE MALTA.JPG

E, digam os compêndios, a nascença do nome, por que amargas margens não reside nele um orgulho, qualquer boaventurança do berço do regicída Aquilino.

(Vivemos, hoje ainda, almas que ele quis profanas de maldade engatilhada em pontaria de assassínio.)

Mesmo a ladear a Matriz, velhinha nascida no século XIV. Os sinais românicos apontam para gerações anteriores. Não importa, reside ali uma realidade sobretemporal, santa, sã e sineira.

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Onde? - as marcas dos castigos, da sobranceria dos poderes, das vergastadas nas costas dos mais fracos? Sernancelhe descansa neste cimo e renova-se onde as gentes vão à fonte. E conversam e livremente explicam a sua terra, o seu devir. Toda a sua crença em amanhã.

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Não, em Sernancelhe nada condiz com o mundo macabro de Aquilino.

Há é muito para reconstruir. Ruínas datadas de quando? Tudo o abandono leva, menos os pétreos esqueletos que a pobreza mais recente deixou ao léu. Há sintomas naqueles arruamentos estreitos a que eu chamaria "esperança".

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Ou, talvez, desconfiança... Transmitiu-me o gato local, posto no que terá sido janela rasgada, grandiosa, esse medo medonho. Os animais são os iniciais presságios dos desastres; e serão, decerto, os últimos a compreeender a bonança.

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Assim a calçada me levou ao morro maior e aos vagos dizeres de uma castelania suposta. Subir o escadório foi uma aposta nos pulmões, apenas onde se circunvizinhavam restos esparsos de muros, muralhas e degraus.

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De uma fortificação - que terá defendido os antepassados de Aquilino e passou ao lado do Malhadinhas. Porquê? - porque a jactância do Mestre viajou até ao Minho, a Romarigães, lugar benigno em que se aconchegou em casa nobre. É sempre assim...

E em Sernancelhe ficava a velha vila, inspiração de males essencialmente políticos. Outrora grandiosa com episódios menos claros, fonte de investigações, quais as passeatas dos malteses por ali? Como queiram, a velha vila lá está, muito alargada, subindo nos andares dos prédios de hoje. Mas na sua paz e no seu sossego.

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Antiga, reservada (sem me querer intrometer nem expropriar), talvez mais dos visitantes do que dos seus nativos que vivem cá em baixo, preguiçosos de ir lá ao cimo.

 

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