Até Andorra por estrada
Foi há muitos anos, numas férias da Páscoa. Com partida de Lisboa, em dois automóveis, atravessámos a Peninsula no seu estado mais adiantado de gravidez. Corremos a Estremadura espanhola, passámos ao largo de Madrid, já em Castilla la Mancha, Aragão, um cheirinho de Catalunha e Pirinéus. Então o frio caiu sobre nós de repente, nevava entretanto, eramos chegados a Andorra, enfim.
A maioria organizou-se para esquiar. Para não fazer outra coisa além de esquiar. Eu experimentei também, mas não me entusiasmei. Chamavam-me mais a paisagem e os passeios a pé, o pão com chouriço do restaurante italiano e o seu vinho a copo.
Como ainda passaríamos as festividades pascais no Norte, regressámos por Navarra, Castilla Leon, Sanábria e entramos triunfalmente na Pátria querida por Chaves. Depois foi sempre a descer... mesmo a tempo de não perder as cerimónias religiosas na nossa freguesia.
Nunca antes guiara tantas centenas de quilómetros seguidas, em sofríveis auto-estradas. E no miolo espanhol prepondera a monotonia do planalto empedrado. Horas e horas de marcha sempre igual. As distâncias são muito maiores do que cá: qualquer tabuleta aponta a próxima cidade importante e acrescenta à frente duzentos ou trezentos deles, ou seja, de litros e litros de combustível. Foi sair de manhãzinha e chegar à noite.
Se valeu a pena? Claro que valeu. Mesmo porque, de então para cá, tenho enchido de betume esse esqueleto cuja espinha dorsal percorri ao volante. Ainda agora assim será, mas de avião, quem me diz não esteja já no ar neste momento?