Tordesilhas
Os espanhois são desbragados. Poem nas paredes o que o pecado nos leva ao confessionário. Sem pudores, na calmaria das suas vozes castelhanas que ignoram o nosso imaculado português.
Mas a gente sempre se vingou, com outro saber (esqueço agora Olivença...) e, ao menos, durante o nosso Reino, lá iamos papando esses malandros. Aliás, eles mesmo dão conta dessa comezaina.
Tordesilhas, estive lá como se estivesse então...
E dizia-me El-Rei - Machado, chegai aí o pergaminho, que eu assino já! - Ei-lo aqui, meu Senhor...
(Assim à pressa, não fossem os castelhanos dar conta, queríamos mais 370 léguas para ocidente de Cabo Verde, a fanar-lhes o bojo brasileiro, de mui grande proveito.)
O palácio em que os soberanos firmaram o tratado, partindo o planeta em dois, uma parte para Castela, outra para Portugal, ainda hoje o recordo, de caras para el Duero, vasto monumento de dimensões e memórias históricas
Porém, Tordesillas és um pequeño pueblo. As suas noites são pacíficas
e as nossas quinas - as quinas da bandeira nacional - ainda nela assomam sem cores garridas a roubar-lhes a solenidade.
Vagueando por ali, damos ainda conta do célebre Tratado em que as duas potências negociavam terras e mares, talvez ao jeito pintado por alguém que fez ninho nos idos do imperialismo americano-soviético
porque a vida também se faz das maiores imbecilidades, que hão de ser temperadas com o magnífico Real Mosteiro de Santa Clara, comemorativo da vitória do Salado, na qual os exércitos lusos de D. Afonso IV tiveram uma intervenção decisiva,
sendo considerado um exemplar único da arquitectura mudejar em Castilla-Leon. (Fica já agendada uma próxima visita ao seu interior...) E mesmo com o falatório da Plaza Mayor, em maré de almoço, a mais propícia,
senão mesmo com as vistas de el Duero, da sua grandiosa ponte românica,
já a dois dias de se transfigurar no nosso Douro, vinhateiro, electricista, barqueiro, rio de mil ofícios até se deixar entrar na sua foz, Portugal avante.