Trancoso
Uma vila que ficou em nuvens, após rápida estadia: foi o tempo de chegar e o confronto com a velha muralha e a devida vénia a El-Rei D. Dinis, ainda recebendo a Sua noiva, a nossa Rainha Santa. No entrar da porta principal da praça, muitos homens de armas, lanceiros, as flâmulas todas da Nacionalidade. - Machado? Por quem sois! - E os amigos, guias nesse périplo, num instante nos confrontaram com a estalagem.
Eram os tempos dos nossos 40 anos. Dava para tudo: jantaradas folgazãs, passeatas, dormir a desoras. Sob uma escuridão que exigia espera fotográfica, num grupo sempre acelererado. E daí as poucas imagens trazidas. Aliás, tão poucas quanto as perdizes levantadas, em terras fáceis de planalto...
Mas ficou o retrato da Estrela de David gravada na pedraria granítica de uma esquina de Trancoso. Já muito noite, no virar de uma viela. Eram os mistérios silenciosos da vila, uma gente à parte dentro das suas casas, no mais são amabilíssimo acolhimento do quotidiano. Relata-nos isso a vida irmanada da actualidade. Somente... aquela estrela, decerto multissecular, era um aponte às catacumbas, a indicação de um refúgio. Pobres judeus da raia! E a história veio renanscendo entre ruelas e praças...
... A história do «abafador» de Riba Dal, nos Novos Contos da Montanha, de Torga. O homem eleito por Jeová para abreviar a morte dos agonizantes, antes que se ouvissem as campaínhas do Sagrado Viático do Catolicismo. Assim o moribundo morria matado, mas na Fé dele...
O «abafador», quando chamado. alto, magro, de parcos dizeres, sabia ao que ia. Não tugia nem mugia, conta Torga. Diria as suas rezas primeiro... Mas, de imediato, se lançava com o joelho ao peito do quase defunto, e as mãos ao seu pescoço. Em chegando o sacerdote de Cristo, tarde era, a morte antecipara-se...
Foi assim? Nunca saberemos. Apenas registo sinais inatingíveis de uma doutrina diferente. Sendo que, historicamente, enalteço a presença e a preserverança do judaísmo, meu Deus!, que és de todos os teus.