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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Um minhoto na Capital

João-Afonso Machado, 27.02.22

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Enfim, vão lá doze anos em que sempre pontificaram os nossos encontros fortuitos. Mas agora a gente combina previamente o programa, por norma de raiz cultural. E os Jerónimos, fatalmente, estavam no roteiro da minha máquina fotográfica. Planeámos tudo, incluindo a deslocação no eléctrico, o tempo bastante para uma antecipada explicação de mundividência histórica que ouvi sem interromper. - Ah!, o manuelino! A imagem de um mundo finalmente aberto e ecuménico! - E todo aquele estilo arquitectónico foi devassado, traduzido, nessa imensa viagem palratória. Com as suas pulseiras tilintando de fulgor e patriotismo.

O facto é que chegámos ao dito "Oriente" de uma riqueza que já lá vai. (Eu nem aconselhei a minha loira amiga a ler Antero, as suas Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, não se desse o caso de ser respondido à estalada...) E desembarcámos com o seu anúncio de uma visão mística da Arte e da Fé, da História e da plenitude do ambiente que envolve o mosteiro.

Assim fomos andando. Esperava-nos a memória de Camões, de Vasco da Gama... Entre visitantes plurirraciais, predominantemente de olhos em bico, uma visão que eu colocaria no Terreiro do Paço pré-Terramoto, aos magotes para bisbilhotar o interior dos Jerónimos, longas filas que se atropelavam. Foi quando a minha cintilante amiga se exasperou e bradou que Portugal era dos portugueses e outras atoardas que felizmente a Catarina Martins não ouviu. Dando ordem de marcha para os célebres pasteis de Belém, onde idêntica moratória nos penitenciou, sempre no cantochão da gentinha que nem sabe ao que ali vai e diatribes similares.

Finalmente o (aliás, delicioso) docesinho. Acompanhado de umas águas-das-pedras (naturais, implorava eu) assaz acalmantes. E o regresso ao Cais do Sodré. Não, jurei calado, nunca mais. Doravante, qualquer jantarinho em pacato restaurante do Bairro de Alvalade ou até mesmo umas codornizes em churrasqueira de Sacavém. Os gritos de - Por S. Jorge! Por S. Jorge! - é que chegaram uma vez por todas... Nós, minhotos, entendemo-nos bem com os galegos, não nos queremos privados das tainas deles. Que se dane a Cultura!

 

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