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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Um minhoto na Capital

João-Afonso Machado, 17.06.21

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Agora mesmo me pergunto como fui parar a Lisboa em plena maré dos Santos Populares. Qualquer coisa se me atravessou no espírito, que por cá vou permanecendo sem dar com o caminho de regresso. Enfim, coisas de parolo cosmopolita, guloso de tudo quanto seja novidade, desde a boa mesa do Jockey às maravilhas da Fertagus. Por isso me decidi a uma cristianíssima cruzada na Margem Sul - tomando-a de surpresa a bordo de um comboio.

É claro, dirigia-me, então, para a estação, já nas cercanias do Hotel Roma, quando dou conta da minha amiga, caminhando furiosamente, a parecer falar sozinha. Vinha dos lados da Praça de Londres, em todas as interessantes transparências inerentes a esta acalorada época e, pelo tilintar das pulseiras, muito, muitíssimo, contrariada.

Estaquei, firmei a lança no passeio, como os nossos antepassados guerreiros, e aguardei a arremetida.

Mal me cumprimentou, possessa, a fumegar. Há longos meses preparando a marcha de Roma/Areeiro e, acabavam de lhe confirmar, a besta do Medina este ano proibira o desfile na Avenida da Liberdade. - Por causa dessa estúpida covid inofensiva! - exaltava-se, muito negacionista.

Prudentemente, mantive o silêncio. - Uma marcha de Roma/Areeiro? - pensei - E como seria a coreografia? Eles de blusão negro e capacete, elas de jeans com os joelhos à vista? E as motas rugindo a fazer "cavalinhos"?

Aguardei por mais informações que não chegaram. A minha querida amiga terá pensado que a zona se solidarizava consigo. E vai de ensaiar o seu inédito repertório, desatando a saraquitar, as mãos à cinta, entre as mesas da esplanada mais próxima - «Um craveiro nas águas-furtadas/cheira bem, cheira a Lisboa/Uma rosa a florir na Tapada/cheira bem, cheira a Lisboa», tralará, tralará, lalalá...

E perante a estupefacção dos presentes, este manjerico nortenho, deitou-lhe as mãos aos ombros e, em filinha, gingou e cantou com ela, também, acudindo à sua súbita "branca" - «...A fragata que se ergue na proa/a varina que teima em passar/cheiram bem porque são de Lisboa/Lisboa tem cheiro de flores e de mar».

Após o que, tomando as rédeas ao cavalo do meu destino, montei, desci à gare e embarquei no trem para mais uma epopeia do Barreiro a Almada.

 

2 comentários

  • É mesmo, querida Luísa!...
    Bjinhos.
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