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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Um minhoto na Capital

João-Afonso Machado, 19.09.21

CAIS DO TABACO.jpg

Lisboa está diferente. Entre ruas ou avenidas e os passeios tem umas vias estreitas com muitos desenhos de velocípedes. E centenas de bicicletas e trotinetas presas como vacas leiteiras, propriedade da Câmara Municipal, à disposição dos transeuntes. Abismei! Sempre com a noção de que, depois de Cristo ter dado a vida por nós, nada é oferecido, tudo se paga. Mas eu não sabia como era, nem me apetecia pedalar. Assim fui indo, atento às novidades, movido pelas pernas desde o Saldanha até Santa Apolónia. Confesso - tão cedo não tenciono voltar à Capital.

O trânsito automóvel é o mesmo. Raríssimos os ciclistas. Restavam as trotinetas que eu vi a curvarem como o Miguel Oliveira, o joelho dos condutores a rasar o pavimento. E havia também uns trotinetões, tamanho FPB (família pequeno-burguesa), sem embargo do consequente aspecto achinesado da sede do Império, algo a que os cristãos-velhos portucalenses torcem desagradados o nariz.

Depois, as trotinetas, velocíssimas, silenciosas quais raposas, assemelharam-se-me o perigo maior. Deixei as cautelas com os autocarros e os táxis e centrei-me, obsessivamente num hipotético título da primeira página do CM - "Nortenho vem a Lisboa e morre trucidado por uma trotineta"... (Subtítulo - "O óbito foi declarado no local"...)

Não, todo o cuidado era pouco. E tão prevenido seguia, nem dei conta da minha amiga (não fora o tilintar das suas pulseiras) ali pelo Rossio, a calça de ganga elástica, a perna... a perna, meu Deus, iam-me saltando pensamentos que eu enxotava com a mão, como se varejeiras fossem... - Olá!!! - Olá!!! Por aqui???

Por ali, pois, a caminho do comboio. - Mas assim? Porque não de bicicleta? - Em boa verdade, tive vergonha de lhe dizer, ignorava como desencabrestar as máquinas. E alvitrei com a necessidade, esta mania de andar... em último recurso, o táxi...

Tomou-se de fúrias. Foi longa a prelecção sobre o dióxido de carbono e todos os modernos ditames acerca da vida saudável. Tudo ouvi na maior humildade, espreitando de través o relógio. Já só podia apaziguar a sua exaltação prometendo apanhar a primeira trotineta que encontrasse, encostada a uma esquina qualquer. A minha amiga deve-se ter dado por satisfeita, sentou-se no banco de um triciclo e deu as suas ordens. Partiu. Atrás dela, ao volante, esgatanhando-se a pedalar, um asiático baixinho, já a suar em bica. Santo Deus, a minha tilintante amiga, loirissima, combatia o dióxido de carbono a bordo de um riquexó!

 

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