Uma visita nocturna
Fora já o luso fusco e a surpresa entrara pela chaminé e esperava-me no meu quarto. Um jovem mocho galego, ainda mal calhado nas artes de voar. Trouxe-o comigo à cozinha e ofereci-lhe um pedaço de carne de porco à alentejana, mas recusou. Notava-se, estava aterrado, o olhar escancarado e as garras de volta dos meus dedos. Sem quaisquer intenções de bico... Temendo pela sua sobrevivência propus à horda de sobrinhos uma caixa de sapatos, alimento, tempo para crescer - tal qual criei tantas corujinhas caídas do ninho. Mas o protesto foi geral - liberdade, liberdade! - e eu cedi ao poder das massas. Já lá vão esquecidos na História os morgados de outrora, respeitáveis chefes de clã. O mochinho, a voar assim, ainda regalará algum gato bravo.
E El-Rei que tanto tarda em voltar!