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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Vizela

João-Afonso Machado, 27.09.22

O ambiente nunca foi harmonioso. Mas em 1982 o motim eclodiu: a população toda na rua, os sinos tocando a rebate, o caminho-de-ferro de carris levantados... Vizela queria ser concelho, reclamava meia dúzia de freguesias para o constituir, e pela noite fora os archotes acesos incendiaram impropérios contra o imperialismo de Guimarães.

Simpatizante da facção vimaranense (que a minha gente é muito de lá), durante anos não tornei a Vizela. Mas a idade tudo esquece e o tempo tem gestos benfazejos como, por exemplo, produzir ruínas e castigar famigerados texteis.

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Ainda agora percebe-se estamos numa fase de grande indecisão. E de perplexidade: restarão vestígios de uma eventual visigótica ou henriquina indústria?

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Vizela, alcançada a alforria concelhia em 1998, por ora não tem resposta. Prepara o seu Museu da Indústria Textil (do qual passo ao lado), mas resguarda o centro (a antiga vila) de toda essa confusão produtiva e laboral e, claro, aposta na sua riqueza termal.

(Propositadamente para lá parti sem sequer um livro na mochila. Demandei a livraria, o ensaio sobre Camilo Castelo Branco em Vizela,

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algo que me levasse adiante dos Gracejos que matam das Novelas do Minho - debalde, porém. O gosto da leitura rareia nestas caldas e eu não encontrei melhor, para me entreter à noite, do que um romancezeco do Mário Zambuzal.

Como quer que seja, a Vizela antiga defende-se bem. Banha-a o rio com o seu nome,

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dá-lhe sombra o frondoso Parque das Termas, lugar de amores e enredos camilianos.

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De muitas árvores e lagos,

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de muitos silêncios e amigáveis seres,

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com o curso fluvial sempre a ladeá-lo.

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A cidade não é monumental mas as suas praças são aprazíveis lugares sem berraria. Ficam ainda indeléveis marcos da riqueza de outrora

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e de um comércio como já não há.

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Além disso, ainda que os edifícios vão caindo aos pedaços, sempre sobraçarão a bandeira do novo concelho, pregada nas frontarias. É assim por toda a Vizela

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que exibe também saborosas febras do humor minhoto.

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Os hoteis, irmãos amicíssimos das termas, juntam-se na rua principal (recordo a quietude da parança), não longe do parque. Tudo vai sendo recuperado mantendo traços simpáticos da arquitectura dos primórdios.

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Os dias passeiam-se tranquilos como as tartarugas e os cágados nos penedos do rio.

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A jusante das termas vamos descobrir (com imensa pompa indicativa) a ponte romana. Ou não será românica?

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Estou em crer que os letreiros enganam: a edificação actual é já uma reconstrução medieva. A Ponte Velha, assim é mais justamente nomeado este monumento nacional. Desta Vizela tão recente e tão antiga em História a que poucos parecem atender.

 

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